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Crescer com orgulho: cachos, autoestima e ancestralidade

Indicações de livros e curtas para uma infância com muito mais representatividade e afeto


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Você precisa “domar esse cabelo”, “ajeita essa juba”; “tá parecendo um ninho de rato". Ouvir essas frases dói, mas ouvi-las na infância deixa marcas que o tempo demora a apagar.


Chegamos em outubro, mês com cheiro de brinquedo novo, gosto de pipoca doce e som de gargalhada solta no quintal. Celebramos o dia das crianças. E é justamente nessa época, quando ainda somos pequenos, que nascem as sementes do amor-próprio, da autoestima e do orgulho de ser quem se é.


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Quando falamos de infância negra, essas sementes muitas vezes precisam romper o concreto. Precisam atravessar as frases que tentam moldar, os padrões que insistem em limitar, e os olhares que — por tanto tempo — quiseram definir o que era, ou não era, “bonito”.


Porque cabelo que cresce como galho livre em direção ao sol, é mais do que aparência: é símbolo de ancestralidade viva.

É herança de quem veio antes, canto de resistência e raiz de pertencimento.


Representatividade que floresce

Felizmente, nos últimos anos, o debate sobre representatividade infantil floresceu. Ver meninas e meninos negros nas capas de livros, nas telas do cinema e nas prateleiras de brinquedos é um alento e, ao mesmo tempo, uma revolução.

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Para mim — uma criança não branca que cresceu nos anos 2000 — é emocionante assistir a essa transformação. É como se o tempo, finalmente, devolvesse à infância o direito de se reconhecer nas próprias histórias.


E, para celebrar esse renascimento, preparei indicações que são verdadeiros presentes: daqueles que aquecem o coração, despertam sorrisos e fincam raízes de amor. Livros, curtas e momentos que podem ser compartilhados, transformando gestos simples em memórias afetivas e poderosas:


Indicações #NahReal:

A primeira indicação é “Meu Crespo é de Rainha”, da maravilhosa Bell Hooks. Essa obra é um poema de amor aos fios crespos e cacheados, uma celebração da beleza que nasce da ancestralidade. Cada página é um sussurro de orgulho e realeza. Ler esse livro é como colocar uma coroa invisível na cabeça das crianças e lembrá-las de que elas já nasceram majestosas.


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Já “O Cabelo de Lelê”, de Valéria Belém, é uma jornada de autodescoberta. Lelê começa se perguntando por que seu cabelo é diferente — até encontrar, nos livros, respostas que a ligam a uma história de povos, culturas e resistências. É impossível não se emocionar com a curiosidade dessa menina que, aos poucos, transforma dúvida em amor por si mesma. Um lembrete suave e poderoso de que nossa ancestralidade vive em cada fio.

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E, claro, não poderia deixar de mencionar um clássico que fez parte da minha infância: “Menina Bonita do Laço de Fita”, de Ana Maria Machado. Lembro da minha mãe lendo para mim, e eu, encantada, mergulhando naquele universo doce e colorido. Hoje, além do livro, também existe a versão em animação no YouTube — um presente nostálgico e atemporal que continua encantando gerações e reafirmando a beleza negra com ternura e poesia.

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Nas telas: histórias que curam

Assim como “Menina Bonita do Laço de Fita”, existem muitos curtas gratuitos no YouTube que espalham representatividade e afeto. Então, que tal criar novas memórias com as crianças que você ama? Que tal uma sessão de cinema caseira, com almofadas no chão e cheirinho de pipoca no ar?


Entre risadas, abraços e olhares curiosos, nasce o instante perfeito para fortalecer laços e descobrir o poder das narrativas. Porque, no fim, o que essas obras mais ensinam é que o amor — por si, pelos outros e pelas nossas raízes — também se aprende no aconchego de quem nos acolhe.


Nos curtas “Das Raízes às Pontas” (Débora Zanatta) e “Meu Cabelo é Resistência” (Valquíria Prates), disponíveis no YouTube, crianças e jovens negros compartilham o processo de redescobrir a beleza nos próprios fios. São produções simples, mas profundamente potentes, que mostram que o amor por si mesmo pode — e deve — ser cultivado desde cedo.

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Mais do que estética: é afeto.

Ensinar uma criança a amar seus cachos, sua pele e sua história é um ato de revolução silenciosa. Cada elogio, cada representação positiva, cada personagem com traços reais e cabelos como os dela — ou dele — ajudam a construir adultos mais seguros, mais livres e orgulhosos de suas origens.


Neste Dia das Crianças, que tal trocar o presente passageiro por algo que floresça para sempre?


Um livro, um filme com pipoca, uma conversa, um abraço. Tudo aquilo que ensina, com ternura, que beleza não se mede por padrão: se reconhece nas raízes.


Porque, no fim, não é só sobre cabelo. É sobre identidade. É sobre amor. É sobre crescer sabendo que ser você é o seu maior presente.


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Por: Jaqueline Oliveira, artista, designer, apaixonada por cultura de rua, cinema, culinária e viagens: buscando sempre novas formas de ver e sentir o mundo.

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